Mortos no mesmo 23 de abril, há 400 anos, William Shakespeare e Miguel de Cervantes têm em comum a influência duradoura de sua obra
Shakespeare: A maioria dos amantes de Shakespeare cita “Hamlet” ou outra das tragédias escritas após 1600. A grande influência do drama do desassossego do príncipe dinamarquês pode ser medida pela circulação obtida pelo verso “Ser ou não ser? Eis a questão”. 10 pontos
Cervantes: O romance “Dom Quixote” é conhecido mesmo por quem não o leu, devido à icônica presença dos moinhos de vento contra os quais o protagonista luta. O personagem-título tornou-se um mito literário, e até o trajeto que ele percorre na Espanha, descrito na obra, é hoje seguido por turistas. O livro representa a inauguração do romance moderno devido às inovações que utilizou, e veio a influenciar muitos autores. 10 pontos
Shakespeare: Além das 38 peças de sua autoria e dos inúmeros sonetos, acredita-se que participou da obra de outros, como em “Sir Thomas More”. Sua influência pode ser medida pela constância com que é adaptado não só no teatro mas por outras artes, como a pintura, escultura, música e cinema. Enquanto isso, peças da mesma época, como o “Fausto” de Christopher Marlowe, raramente são montadas. 10 pontos
Cervantes: Apesar de ter publicado um romance pastoril, peças de teatro e novelas, “Dom Quixote” é, disparado, o título pelo qual é mais conhecido e homenageado. Na Inglaterra, por exemplo, influenciou Laurence Sterne em “A vida e opiniões de Tristram Shandy”; no Brasil, por Machado de Assis, no “Brás Cubas”; na Rússia, pelo “Idiota” de Dostoiévski, cujo protagonista também é um idealista que tenta corrigir o mundo. 8 pontos
Shakespeare: As peças de Shakespeare foram editadas juntas pela primeira vez em 1623 por dois atores de sua companhia. 8 pontos
Cervantes: “Dom Quixote” saiu em duas partes, em 1605 e 1615. O total soma mais de mil páginas. 10 pontos
Shakespeare: As primeiras traduções surgem no século 18, em francês e alemão. No século 19 sai uma ótima versão em sueco. Hoje todas as línguas europeias têm versões e muitas outras, como o japonês. 7 pontos
Cervantes: A obra mestra de Cervantes teve traduções quase imediatas, ainda no século 17, já que a Espanha era um império e muitas pessoas liam o espanhol. 10 pontos
Shakespeare: Em vida, Shakespeare teve seus sonetos publicados, com boa circulação. Por vezes, seu nome era incluído entre os autores para ajudar nas vendas. Sua companhia foi patrocinada pelo lorde Chamberlain e depois pelo Rei Jaime I, mudando o nome para “King´s Men”. 9 pontos
Cervantes: Apesar de ter escrito já no fim da vida, Cervantes usufruiu da fama decorrente de seus escritos – mais do que de recompensas financeiras. Seu principal livro foi publicado sob a proteção de nobres espanhóis. 7 pontos
Shakespeare: Alguns amigos famosos foram Ben Jonson e Thomas Middleton, com quem Shakespeare teria escrito “Timão de Atenas”. Um rival teria sido Christopher Marlowe, autor de outra companhia de teatro da época. 8 pontos
Cervantes: Não se sabe muito sobre seus amigos, mas um episódio marcou a rivalidade do autor com seus contemporâneos: em 1614, um falso “Dom Quixote” foi publicado, o que é atribuído ora a Alonso Fernández de Avellaneda, ora a Lope de Vega. A provocação incitou Cervantes a correr com a finalização da segunda parte da obra para provar sua “paternidade”. No final do segundo volume, deixa claro que o Quixote morre, “desautorizando” continuações. 7 pontos
Shakespeare: Casou-se em Stratford-upon-Avon com Anne Hathaway, mulher mais velha, já grávida. Tiveram uma menina e depois um casal de gêmeos, do qual o garoto Hamnet faleceu. Muitos leem em seus sonetos que ele teria uma amante, a “dama morena”. 8 pontos
Cervantes: Um dos folclores em torno do autor são as confusões em que sua mulher, filhas e genros se envolviam. Em uma delas, um corpo foi encontrado próximo à casa de Cervantes. Acusado de assassinato, ele teria fugido para a Itália. 8 pontos
Apesar de Cervantes ter fundado o romance moderno com seu influente “Dom Quixote”, é inegável que o conjunto da obra de Shakespeare é muito maior e perpassa temas mais amplos. Nessa lúdica batalha, ele sai vencedor.
Fonte: Erick Ramalho, presidente do Centro de Estudos Shakespearianos (CeSh) e Rodrigo Vasconcelos Machado, professor da UFPR especialista em Cervantes. Infografia: Gazeta do Povo.